2 Espacialidades suburbanas - Vol. 1 Nº2/ outubro 2023
Relento
O frio do asfalto
Olhos marejados.
O corpo exposto ao frio daquela alvenaria.
A tosse ecoa no ar daquela estação desasseada.
A fome é sua única companhia.
São vistos amiudadamente como outro pelos magotes que passam com ligeireza naquela estação.
O preto é predominantemente o rosto social que percebemos em volta daquele portal de embarque.
Do lado, há os ditos-cujos progressistas, todavia, negam o pão ao irmão e têm medo de ser assaltados.
Deus, olhai para os pobres homens de cor!
A Pátria desafinou nos vértices da História ao não ouvir o canto de socorro daqueles homens de cor!
Sinto gotejar em minhas pálpebras o mar da insuficiência em não ter sempre o pão para ajudá-los.
Misericórdia aos meus irmãos!
O vento frio adentra congelando ferozmente aquela anatomia enferrujada, causando, por exemplo, a hipotermia – que consiste na queda da temperatura corporal. Outrossim, a psicologia da morte circunda a pedagogia do comum, lastra o sangue daquele indigente à espera da autópsia.
Gritos dos desesperados:
Senhor, toca o cântico da tua glória no coração daqueles homens de posses. Ajuda-nos!
Não há café pela manhã.
Não há amor.
Não há teto.
Não há concessão do Direito básico.
Nesse ínterim, vivo à margem daquilo que é ser cidadão, pois sou visto como o outro e tenho direitos negados.
Outrora, as efemérides da História deste país e seus respectivos agentes nunca olharam por nós.
Minhas especificidades são sempre contadas pelos homens de gravatas. Minha voz? Ocultada.
Ora, portanto, vivo aqui nesta estação cujo cúbico paupérrimo com a companhia da minha fé, da fome e do sereno característico daqui.
Tristeza.
O que é ser cidadão?
Deus todo poderoso
mostra-me!