3 A educação nos subúrbios - Vol. 1 Nº 3 / dezembro 2023
Vinte anos de Audiovisual no Núcleo de Arte Grécia
Desde que comecei a exercer o magistério nas redes públicas estadual e municipal do Rio de Janeiro tentei repassar aos alunos meu gosto pela arte cinematográfica e minha experiência neste assunto. Em 2001, na Escola Municipal Grécia, unidade escolar sediada na área dos bairros de Vila da Penha, Vista Alegre e Brás de Pina, realizei com eles muitas atividades de audiovisual. No ano seguinte, essas ações derivaram a organização de um núcleo de arte naquela escola, criando-se ambiente favorável à expansão das produções audiovisuais feitas pelos alunos. Em 2003 isso foi concretizado, quando comecei a ministrar aulas na oficina de vídeo do Núcleo de Arte Grécia.
Criação audiovisual na Escola
Atualmente, com a facilidade das câmeras digitais, celulares, entre outros recursos tecnológicos as pessoas podem realizar e exibir na Internet ‒ através de sites como o Youtube, TikTok ‒ pequenas produções, que podem ser assistidas por um número cada vez maior de espectadores.
Os professores também buscam esse diálogo, possibilitado pela democratização dos recursos audiovisuais. E este debate não é de hoje; aliás, desde que tenham oportunidade, os professores utilizam novos recursos em sua didática. Trata-se de uma tendência iniciada no início dos anos 2000, com a popularização das câmeras digitais e da facilidade da edição não linear em computadores caseiros. Neste contexto, aumentam as produções independentes e as intervenções caseiras que invadem a internet.
Entretanto, embora as facilidades com os recursos tecnológicos tenham aumentado, alguns problemas surgiram, como um número grande de imagens sem resolução, com enquadramento não adequado, movimentos bruscos e, principalmente, pequenos vídeos produzidos sem autorização expressa da pessoa filmada, gerando uma discussão sobre a ética. Com referência a isso, Freire (1996, p.16) nos lembra da nossa responsabilidade:
“Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos, professores e professoras, a nossa responsabilidade ética no exercício de nossa tarefa docente. Sublinhar essa responsabilidade igualmente àquelas e àqueles que se acham em formação para exercê-la”
A função do professor é manter-se como orientador das atividades práticas, tais como elaboração de roteiros, pesquisas, filmagens e edição e análise plano a plano de filmes e vídeos. Torna-se importante a exibição de filmes e vídeos para a análise e reflexão da linguagem audiovisual.
A partir da criação da Oficina de Vídeo do Núcleo de Arte Grécia muitas realizações audiovisuais foram desenvolvidas. Algumas destas dessas produções audiovisuais se destacaram e participaram de diversos festivais e mostras de cinema.
Além dos muros da escola
Após anos de realização audiovisual, os alunos do Núcleo de Arte Grécia sentiam a necessidade de um espaço que pudesse ser um lugar de exibição de seus filmes e ao mesmo tempo fosse um ponto de atração para o debate sobre as questões audiovisuais. O cineclube Subúrbio em Transe surgiu desta necessidade de diálogo além dos muros da escola. A Casa do Artista Independente (CASARTI), que se localizava na época na Rua Ponta Porã, em Vista Alegre (hoje está sediada em Cordovil), abriu a porta para os alunos organizarem as sessões cineclubistas. Assim, no dia 07/07/07 é inaugurado o cineclube Subúrbio em Transe, com a exibição de curtas dos próprios alunos.
Desde o seu início as atividades do cineclube já se mostraram amplas. Além das exibições mensais, houve a iniciativa de se produzir filmes e também de incentivar as oficinas audiovisuais. Alma Suburbana, primeiro longa-metragem produzido por alunos, foi uma coprodução entre o Subúrbio em Transe e o Núcleo de Arte Grécia.
No ano de 2008 foi fundado no Núcleo de Arte Grécia, dentro do projeto Cineclube nas Escolas, o Cineclube Grécia, organizado pelos alunos.
Para a não Finalização
Nesse período de desenvolvimento de oficinas de audiovisual na escola muitas coisas aconteceram. Alguns alunos já se formaram e se tornaram cineastas, outros seguiram em diversas profissões, mas com o olhar crítico sobre esta sociedade em que vivemos.
A partir da reflexão sobre esses anos de intensos trabalhos com o audiovisual, em que priorizamos todas as etapas de produção de um filme, nos encoraja seguir em frente produzindo e exibindo mais produções audiovisuais dos alunos. Esperamos que o cinema possa agregar mais pessoas neste objetivo comum: produzir e aprender com essa arte.
BIBLIOGRAFIA
BERGALA, Alain. A Hipótese-Cinema. Rio de Janeiro: UFREJ/LISE/CINEAD/BOOK LINK, 2008.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 43 Ed. 2011.
FRESQUET, Adriana (Org). Aprender com Experiências do Cinema: Desaprender com Imagens da Educação. Rio de Janeiro: UFRJ/LISE/CINEAD, 2009.
MARTIM, Marcel. A linguagem Cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 1980.
PEREIRA, Josias (Org). Novas tecnologias de informação e comunicação em redes educativas – Londrina: ERD Filmes, 2008
FILMOGRAFIA RESUMIDA
O pequeno cordel do sapato voador. Direção coletiva. Ano 2005. Prêmios: Melhor Roteiro (Mostra Mundo Recife – 2006; Terceiro lugar Mostra Challenge. Portugal – 2006)
Um lugar chamado Quitungo. Direção Coletiva. Ano 2006.
Um plano sequência sobre o racismo. Direção Coletiva. Ano 2007
Valorizando o meio ambiente. Direção Coletiva. Ano 2007. Menção Honrosa – Festival Nacional de Cinema Ambiental Pacoti. 2007.
Alma Suburbana. Direção: Luiz Claudio Lima; Hugo Labanca; Leonardo Oliveira; Joana D´arc. Ano 2007
No Limite do Horizonte. Direção Coletiva. 2011. Prêmio: Melhor Filme Mostra Cinema da Gema/Visões Periféricas, 2012 Periféricas 2012.